A revolta do galinheiro
Ainda me lembro do tempo em que a doença mental era estigmatizada e escondida dos olhos do público – um tempo distante do de hoje, em que a debilidade psicológica procura argumentos para se justificar, explora a vitimização em benefício próprio e recruta seguidores.
O interesse pelo desenvolvimento pessoal, pelos temas do feminino e do masculino e dos relacionamentos em geral trouxeram à minha atenção há alguns anos grupos como os dos MGTOW (Men Going Their Own Way), que fui acompanhando muito à distância e de olhos semicerrados, não fossem entrar salpicos de lama daquela chafurdice intelectual e moral, impermeável a qualquer tentativa de diálogo coerente.
As referências repetidas à red pill e à black pill traduzem desde logo uma ignorância de base: os celibatários deviam saber que a pílula não lhes serve de nada e que o abuso de estupefacientes não dá bom nome à causa. Fui ler pela primeira vez os 12 passos dos Narcóticos e Alcoólicos Anónimos, que já tinha visto referidos de forma lisonjeira em obras de cunho espiritual e fiquei tão agradavelmente surpreendida que me atrevo a dizer que está ali a cura. O primeiro passo consiste em reconhecer a impotência face ao vício e a perda de controlo sobre a própria vida – a perda da razão, acrescento. O segundo, em reconhecer que existe um poder superior que pode devolver-lhes a sanidade – não há casos perdidos. O quarto, que recomendaria como requisito preliminar, corresponde ao inventário moral minucioso de si mesmo – isto é, ao assumir da responsabilidade contrário à vitimização masoquista com que estas seitas se masturbam publicamente.
Mesmo entre influencers que não usam o rótulo “MGTOW” ou “Incel”, as perturbações de personalidade são evidentes. O ambiente de apoteose da adolescência começa logo pela legião de seguidores acéfalos, suspensos das lives e da sabedoria trémula de homens que recusam não só tornarem-se homens, mas tornarem-se adultos – que não andam à procura de mulher, mas de mãe; que à frente das câmaras enchem o peito de ar, mas na vida privada andam encolhidos e se oferecem para ser o capacho dos outros, acusando depois quem lhes passa por cima. É como se o galinheiro tivesse decidido revoltar-se contra as leis da selva e quisesse ser tratado como leão só porque acha ter direito à igualdade de cidadania. Senão amua ou pega numa metralhadora.
Aposto que os Incel foram espezinhados na corrida ao chocolate do Dubai, sem dúvida por uma manada de mulheres. Sem saia onde se esconderem, porque elas agora usam calças, ficaram a chuchar no dedo. E que bem lhes faz.
Imagem: O Sono da Razão Produz Monstros, Francisco de Goya