Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Na Pegada do Silêncio

" ‘You are a lover of silence’, he said". H. W. L. Poonja

" ‘You are a lover of silence’, he said". H. W. L. Poonja

Na Pegada do Silêncio

27
Ago23

"Outsiders"

Sónia Quental

(Dedicado à comunidade de outsiders que acompanha Howdie Mickoski e que comentou o vídeo abaixo.)

 

Why would you wanna fit in with insanity?

Howdie Mickoski

 

 

Presumível forasteiro,

 

Devo começar por te dizer que o cão da vizinha vai à rua mais vezes do que eu. Se tocares à campainha, é provável que não abra, não porque esteja de robe, mas porque não disseste que vinhas. O esforço de me obrigar a simpatias com estranhos ou conhecidos precisa de ensaio demorado, por isso avisa quando vieres. Convém acrescentar que não reajo bem às quebras de rotina e que sou ciosa das âncoras que me fixam.

Se quiseres fazer conversa, não me perguntes o que tenho feito. Sabes que nada disso importa e que vieste para falar do insólito, mesmo que não o tivesses planeado direito e que comecemos, hesitantes, pelo postiço das formalidades, porque por estas bandas o costume é falar-se do tempo. Ainda não sabemos que temos Saturno na mesma casa e que podemos passar ao que interessa, sem precisar de aquecimento ou cautelas. Em mistura ao comentário pouco convincente sobre o calor, menciono brevemente um filme de terror e respondes-me com a angústia da luz do dia que começa a escoar-se três minutos de cada vez depois do solstício de verão – angústia subterrânea para a maioria das pessoas, mas que o nosso termómetro regista. Entre esta troca improvisada e a galope, que desemboca no tema dos rituais e sacrifícios humanos, estalam-me foguetes por dentro.

Parede castanha (Afurada) (5).jpg

 

Posso descontrair, sem ter medo de dizer a coisa errada, das interpretações que vais fazer, se vais ficar ofendido ou magoado quando te digo a verdade. Não me pedes fórmulas de assertividade nem te importas que rosne se for caso disso, e o alívio que sinto faz-me querer encostar a cabeça e ficar, receber enfim no silêncio quem domina o idioma e não me cobra palavras. Não me estranhas, mesmo que sejas estrangeiro por cá. Não me acusas de julgamento nem confundes as minhas intenções, porque o nosso desencaixe é simétrico. Identificas-te como homem, eu como mulher, e não usamos pronomes como fetiches. O nosso fetiche é o Profundo. É com isso que nos identificamos, um plano mítico para quem vive à superfície, deformando o corpo, confundindo a consciência e escamoteando palavras, mutilada a razão com um arco-íris na machadinha.

 

Gostava de continuar a conversa, mas está na hora de ir à rua. O cão da vizinha leva-me três voltas de avanço.

 

 

Fotografia: 2023 © Francisco Amaral – Todos os direitos reservados

 

10
Ago23

Os bons e os bonzinhos

Sónia Quental

Os mornos são muito tolerantes. 

Fabiano Goes

 

 

E, ao contrário da beleza, da excelência, da destreza – valorizadas na Antiguidade greco-romana —, a bondade, ao aparecer, deixa de o ser. 

Sofia de Sousa Silva, in “Dos malefícios da bondade”

 

 

 

Passo a ferro numa tarde improvável de agosto, em que a temperatura – a do ar e a do ferro – me faz refletir noutros (res)caldos.

Reza um daqueles quase-poemas de Adília Lopes, não por acaso muito partilhado nas redes sociais:

 

Só gosto das pessoas boas

quero lá saber que sejam inteligentes artistas sexy

sei lá o quê

se não são boas pessoas

não prestam

 

É que, ironicamente, alguns dos grandes males que sofri e vi sofrer na vida foram praticados por pessoas boas. Algumas, por coincidência, eram sexy – artistas outras. Às vezes, inteligentes. Boas, boas é que não eram, embora tivessem o perfil e gozassem da fama.

Ouvi há dias alguém dizer com grande agudeza que uma das moléstias que mais assolavam a Humanidade era a ingenuidade. Correndo o risco de repetir o eco que fere o ouvido na prosa, direi que é essa ingenuidade que se confunde muitas vezes com bondade. É também ela que nos faz cair em armadilhas incautas quando andamos atrás do que é são e bom.

Foi animada desse desejo que procurei a companhia de pessoas que me pareciam boas e junto de quem me sentia muitas vezes diminuída, porque o meu branco era um branco muito sujo, comparado com o seu branco imaculado. Não queria apenas as que tivessem “bom fundo” – dispensava ter de pegar nos binóculos para encontrar a bondade, preferindo vê-la acenar, convidativa, desde a porta de entrada.

Mas a bondade que se pendura à porta raras vezes é o que apregoa. Chega-se dentro e a casa está às moscas, putrefacta – ou com um amontoado de bugigangas que não deixa respiro, porque o desejo de inclusão da pretensa bondade aceita tudo, sem critério. A frequente ânsia de fugir ao conflito e de não tomar posições que a comprometam com uma qualquer fação que não a neutralidade deixa-a num “não é carne nem peixe”, nem sim nem sopas, coadjuvante de uma paz podre bem mais danosa do que o conflito aberto. Aprendi cedo que quem é amigo de todos não é amigo de ninguém e cedo conheci a perversidade das boas intenções que motivam os “bonzinhos”, profissionais de um desporto a que deram o nome medonho de “tolerância”. Para meu espanto e horror, descobri também as serpentes enroladas que se escondem por baixo das mais bem-cheirosas flores.

Nas canas (2).jpg

A verdadeira bondade não é uma qualidade estática, previsível ou programável. Não tem doutrina e, por não ser dotada de traços fixos, nem sempre é reconhecível a olho nu. Já a integridade, que prefiro à bondade e que está menos na moda, emite à distância o vigor que falta à última. A integridade não oferece descontos vitalícios e indiscriminados, como a bondade, em que a época de saldos dura o ano todo. Inerentes à integridade são a honestidade, a exigência e a verdade – consequentemente, o Amor. A integridade é fiel à consciência, que procura ativamente desenvolver, não ao que passa por bondade aos olhos de todos. A integridade é expressão do ser inteiro, como lembra a sua etimologia, não de um coração toldado, que acha que à bondade não faz falta inteligência nem arte.

São poucas as pessoas que praticam o oposto da bondade; da mesma forma, poucas são as genuinamente boas. A grande fatia do meio, a dos que julgam pender para o lado do bem, é a dos que facilitam o mal por aquiescência ou omissão. Basta para isso estar-se neste mundo sem um questionamento permanente de si, do próprio mundo, do que se pensa saber. Basta o espetáculo lastimável de se limitar a esgrimir opiniões sobre a política e a sociedade, sem nunca ousar ir além do mainstream.

Nas palavras de Neil Kramer, “Se, como adultos, não nos importamos com a Verdade, não nos importamos com a vida. Não dignificamos a vida”. O posicionamento que corresponde à maioria é o de não se importar com nada que não lhe diga diretamente respeito ou que ameace a sua segurança psicológica. As pessoas fogem de encontrar a verdade e de olhar para o seu abismo interior. Escolhem, deliberadamente, não ver, não saber, para não terem de agir nem de sentir a culpa por não agir. Para poderem continuar a levar a vida que sempre levaram, uma vida em que a bondade é um dos consolos que usam para se convencerem de que fazem o que podem.

Quais as verdadeiras características de um adulto? Pensar, encarnar a Verdade, expressar e transmutar a dor. (...) a maior parte do género humano não quer pensar, não quer conhecer a Verdade e não quer ter nada que ver com a dor. Essas são coisas a evitar.

Neil Kramer

 

Mas não pode haver bondade onde a complacência e a mentira sejam escolhidas como modo de vida, sendo a mentira o que marca distintamente a maldade, como propõe M. Scott Peck na obra Gente da Mentira, em que ensaia uma análise científica da maldade, à luz da psicologia e da espiritualidade: “Nestes últimos anos, tenho aprendido que a maldade – seja humana ou demoníaca – é surpreendentemente obediente em relação à autoridade”.

Não preciso de verbalizar, creio, o muito que se pode extrapolar daqui. Arrisco apenas dizer que a maldade também ataca pelas boas intenções e pela moral instituída. A medida que Scott Peck, secundado por Neil Kramer, sugere para a grandeza de uma pessoa – a capacidade para o sofrimento – é precisamente o que falta aos bonzinhos, que recusam ver e sofrer com aquilo que veem para se tornarem verdadeiramente bons. Estes são sempre sexy.

 

a32f319b348fb87c70735ed653c8bd9b.jpg

In Azur: Welcome to Your Dark Side

 

Fotografia: 2020 © Francisco Amaral – Todos os direitos reservados

 

30
Jul23

"Dolce far niente"

Sónia Quental

 

You have to learn to sit in the Silence (…).

 Robert Adams

  

Instead of instant gratification, we seek cheap grace.

 Peter Block

 

           

Janela com grade.jpg

Certa vez, alguém me disse que estava com tanto trabalho que tinha o horário dividido em períodos de um quarto de hora. Acontece-me parecido, às vezes. Listas mentais de tarefas em reelaboração contínua, o tempo que parece impossível chegar, mas depois até cresce, e a ânsia de o aproveitar para adiantar mais trabalho, no espírito de não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje.

O mais difícil é travar a ebulição, pôr freio na gula da adrenalina e criar tempo para o nada. Parar corpo e mente. Temos a ideia de que o rendimento vem da ação – de que, quanto mais se faz, mais se produz e resolve. E temos esse vício de querer antecipar, viver um passo à frente do tempo.

Não fazer nada deixa-nos desamparados. Parece puro desperdício. A necessidade não é apenas de descanso ou lazer, como se vai sugerindo – nem de deixar a criatividade fermentar. É só que o regaço do Silêncio chama e é a sua vez de nos trabalhar por dentro, convidando-nos ao restauro do Mistério.

Mas a mente é tão ativa e ardilosa que até no silêncio quer saber como estar. O “Como?” é uma das perguntas em que mais insiste e por isso procura técnicas de meditação ou de mindfulness, que são apenas mais uma forma de continuar a fazer – fazer o silêncio, desta vez. Sente-se perdida sem estratégias e até do nada quer recompensas, saber que benefícios pode esperar.

Ouvi há dias, num podcast em que se falava do tempo que é necessário dedicar às grandes questões da vida (tempo que a maioria diz faltar-lhe), que uma das mais importantes qualidades espirituais a desenvolver era a disponibilidade. É esse o preço – ou um dos preços – a pagar. Mas, quando a necessidade se torna imperiosa, o tempo faz-se, inventam-se meios, tornamo-nos disponíveis. O que custa é quando chega a estação do silêncio. Quanto já se leu, estudou, praticou tudo e mais alguma coisa. Quando a busca não é movimento, mas estar quieto. Quando se quer avançar e o momento é de entrega. Quando não podemos conduzir o processo e sentimos que o tempo se escoa. Continuar disponível no Nada é a grande prova, sob a pressão do tempo, do impulso para a ação, da expetativa de lucro que acompanha  à socapa um qualquer investimento.

Não obstante… É o Silêncio que nos encharca as mãos de beleza. Tudo o que se faz a seguir é gracioso e sem esforço. Deslizamos no tempo, esticamos o tempo, fazemos toda a índole de coisas inimagináveis e mágicas, incluindo escrever mais um texto, como se o tempo sobrasse para passatempos assim.

 

Therapist Pittman McGehee states that the opposite of love is not hate, but efficiency.

Peter Block

 

18aac9a8fbf3d3e1b593d89382d9ff83.jpg

In Class of '09

 

Fotografia: 2021 © Francisco Amaral – Todos os direitos reservados

 

24
Jul23

Realidade horizontal

Sónia Quental

Most of humanity lives in a horizontal reality (…).

Amoda Maa

  

And, in this sense, mainstream culture has one aim, one single aim: to erase God from our cosmology. To despiritualize you, to have you deny Truth, honor, divinity. You are gaslighted until these things begin to no longer have any real meaning anymore.

Until they no longer exist.

Neil Kramer

 

 

Na água (1).jpg

A noite escura da alma não é escura: é cinzenta. Assim também a noite do mundo, que mostrou o cenho há três anos e pôs a nu as feições escabrosas de cada um.

Quando o impensável acontece e a demência toma conta das multidões acéfalas, é com intensa sede e escassa ventura que se procuram indivíduos eretos, que não tenham abandonado a integridade e a coragem e que alumiem a opressão de um eterno março. O espaço torna-se ainda mais confinado quando não se vê seres com alma, mas corpos reduzidos à sua condição animal, movidos por um instinto de sobrevivência disfarçado de moralidade e de preocupação com o bem comum, a condizer com o açaime grudado à pele.

Nesse março que nos desnudou, houve aqui e além vozes no crepúsculo que impediram que sucumbisse à loucura quem a encontrou na distopia instalada, unindo numa comunidade espiritual geograficamente dispersa pessoas que se descobriram subitamente sós – sós em família e logo sem família, sós entre presumidos amigos, colegas e desconhecidos. Uma dessas vozes foi a de Neil Kramer, professor de esoterismo no Omega Institute, em Nova Iorque, que explora no seu trabalho a relação entre a espiritualidade e os fatores sociais e culturais que moldam o nosso quotidiano – uma voz que restaurava à distância, nos seus roamcasts, a lucidez que a dissonância cognitiva fazia vacilar.

Não se trata apenas da bizarra trama de acontecimentos desencadeada em 2020, mas de toda a programação cultural e política que a sociedade vem metralhando como pus pestilento e que inoculou a mente superficial e infantilizada dos novos ativistas. São as identidades de género e a confusão deliberada da identidade sexual, a promoção aberta da homossexualidade e a sexualização das crianças, os delírios de masculinidade tóxica e de racismo, a retórica da inclusão baseada na entronização das vítimas e das minorias, o controlo centralizado, a censura descarada, a vigilância galopante e intrusiva, a proteção do público à custa da erosão do privado, a supressão de direitos e liberdades básicos, o primado da tecnologia, a distorção e apropriação ideológica da linguagem, a demonização do (discurso de) ódio, a difamação da faculdade de julgar, a ameaça e instrumentalização do aquecimento global, as teorias do relativismo, a mentira institucionalizada que a tudo subjaz, os cavalos de Troia do coletivismo e dos lemas socialistas, …

Is the sharp focus of truth sometimes divise, sometimes judgmental, sometimes offensive? Yes. (…) Division is necessary, so you can see the distinction between true and false, the clear line between the two. (…) So, it’s sometimes important to be offended, so that you will feel your error, experience the dead weight of your wrong conceit. None of these things can hurt your soul – they only rattle the self.

Neil Kramer

 

Quando se pensa no apogeu civilizacional, o ser humano regride em consciência, tornando a perda da profundidade cada vez mais ostensiva, alheado à debilitação intelectual e humana que decorre do seu empobrecimento espiritual. Ou, como lhe chama Neil Kramer, da eutanásia espiritual cometida, resultado da escolha de viver numa realidade horizontal, de que Deus foi omitido, e da ignorância ativamente cultivada sobre o que possa existir para lá do funcionamento mecânico do corpo do Homem e das forças que movem o corpo da Terra.

No mapa da consciência traçado por David R. Hawkins, a coragem é o primeiro nível de Verdade, vida e poder. Todos os anteriores (da vergonha ao orgulho, passando pelo medo), correspondendo a um paradigma de sobrevivência, são antivida e estão do lado de uma energia estéril, orientada para o falso e o destrutivo. 

Numa sociedade cega, quem protesta porque ainda consegue ver a luz é encarado como um antipatriota, iconoclasta, psicótico ou cobarde, uma ameaça ao sistema estabelecido. A não aceitação das ilusões socialmente dominantes é considerada perigosa e subversiva.

David R. Hawkins

 

Porque março não acabou, ainda são precisos fachos que não se deixem intimidar e que emprestem a voz à Verdade, no meio da névoa por vezes desesperante da alienação generalizada, dispostos a dar o exemplo e a sofrer as consequências, se necessário, com um espírito que não busca reconhecimento, mas se recusa a escolher a passividade face à ação concertada do Mal.

Felizmente, a união só faz a força quando tem raízes na Verdade. É por isso que os poucos conseguem suportar o peso dos muitos e é graças a esse equilíbrio precário que o mundo, já sem norte, ainda não perdeu a órbita.

Spiritual life begins with the silencing of the sleep song. (...) You will grieve, yet you will be liberated; you will be lonely, yet you will find belonging; you will be empty, yet you will be filled with light. The more silence, the more His Spirit indwells.

Neil Kramer

Bob Moran.jpg

Cartoon de Bob Moran

(aqui em memorável entrevista)

 

Fotografia: 2019 © Francisco Amaral – Todos os direitos reservados

 

28
Jun23

Capuchinho Vermelho, a floresta e o caçador

Sónia Quental

A abraçar árvore (2).jpg

Muitos são os educados, mas poucos os iluminados.

David R. Hawkins (psiquiatra)

  

O facto de milhões de pessoas partilharem os mesmos vícios não os transforma em virtudes; o facto de praticarem os mesmos erros não os transforma em verdades e o facto de milhões de pessoas partilharem a mesma forma de patologia mental não as torna mentalmente sãs. 

Erich Fromm (psicanalista, sociólogo e filósofo)

 

 

Era uma vez o Capuchinho Vermelho. Vivia numa pequena casa, situada numa pequena aldeia, na orla de uma grande floresta. Ninguém conhecia bem a floresta nem sabia o que havia do Outro Lado, porque era território interdito e só um caçador autorizado podia aventurar-se arvoredo adentro, desde que respeitasse os limites do município. O caçador tinha de ter licença da Câmara e de ser um especialista reconhecido e certificado pela Associação Mutualista e Inclusiva dos Inimigos do Lobo Mau.

O Capuchinho Vermelho tinha uma curiosidade natural e queria saber o que havia na floresta e, quem sabe, atravessar para o Outro Lado. A mãe, naturalmente protetora, dizia-lhe que só pela mão de um caçador certificado. Eram especialistas com direito a posse de arma, que conheciam as melhores clareiras da floresta e sabiam recitar os nomes das árvores em latim, mas desconheciam o que havia do Outro Lado. Faziam apenas excursões turísticas, para distrair a mente e aliviar o stresse, e deixavam as pessoas tirar fotografias com o telemóvel. Iam e vinham dentro dos limites decretados, mas nunca tinham estado do Outro Lado e, na verdade, pouco uso tinham dado à arma.

Não se conhecia quem tivesse passado para o Lado de Lá (como também lhe chamavam), mas corriam rumores de loucura e ruína transmitidos de geração em geração, dissuadindo os curiosos de se aventurarem no desconhecido. O Lobo Mau era o malfeitor de algumas dessas lendas, de que não restavam sobreviventes para fazer um retrato-robô, por isso a sua identidade e paradeiro permaneciam incógnitos.

 

Este quase que podia ser o enredo do filme The Village (2004), que muito recomendo, e uma alegoria do artigo “O lado sombrio do Zen! Quando a meditação se torna perigosa”, de João Ereiras Vedor, que, se quiséssemos resumir ainda mais, podia caber no provérbio “A curiosidade matou o gato”.

É um texto que escorrega bem, com muitas fontes bibliográficas e escrito com boas intenções, mas cujas ideias considero descabidas. Citando Adyashanti, autoridade reconhecida em meditação: “A verdadeira meditação não tem direção, objetivos nem método. Todos os métodos têm como objetivo alcançar um determinado estado de espírito. Todos os estados são limitados, impermanentes e condicionados” (in True Meditation). Depois de começar por tentar aplicar técnicas e seguir a disciplina do budismo zen, Adyashanti descobriu a meditação autêntica quando se libertou delas. A tónica deste livro aponta precisamente para a importância de se desistir das tentativas de controlar a experiência meditativa e abdicar de todas as formas subtis de manipulação para se abraçar uma inocência intrínseca: “Como é que o controlo e a manipulação podem conduzir-nos ao nosso estado natural?”, pergunta.

Claro que aqui, como sugere o título, se fala da verdadeira meditação, que não é um exercício que se procure para desacelerar o pensamento, controlar as emoções ou aliviar problemas psicológicos. É um repousar no Outro Lado da história do Capuchinho Vermelho, que muitas vezes nos faz confrontar com as sombras e os perigos da floresta. É por aí o caminho e não há atalhos nem “especialistas” que possam desbastá-lo por nós.

Que haja quem se aproprie da meditação com objetivos mercantilistas e corporativos inescrupulosos, como propõe João Vedor, certamente que sim – o que não lhe retira valor. Também de Cristo se faz há milénios toda a espécie de apropriações e distorções, encontrando-se a sua hipotética imagem estampada em muitos artigos de merchandising, o que não me parece que faça do próprio uma fraude ou nos obrigue a confiar-nos a uma instituição religiosa ou a um "especialista" para validar a autenticidade de uma experiência epifânica.

Aproveitando o paralelismo legítimo que o autor de “O lado sombrio do Zen!” faz com a oração, as suas advertências em relação à meditação, que considera mais perigosa por não ser herança nossa, seriam o mesmo que dizer a alguém para não orar sem a devida técnica, porque podia sofrer um desarranjo emocional ou ter um arroubo místico incontrolável que só a técnica seria capaz de evitar. Aliás, a sugestão de que as sensações físicas e psíquicas provocadas pela meditação e pela oração se reduzem a efeitos neuronais é particularmente insidiosa e característica de uma ciência materialista, que identifica a mente com o cérebro, classificando certos estados “alterados” de consciência como de “desconexão com a realidade”.

Já quanto ao apontamento histórico sobre a introdução da meditação no Ocidente e o seu desenraizamento, vale a pena lembrar que um dos hippies que impulsionaram o movimento, nos anos '60, foi Ram Dass, professor de Psicologia em Harvard, que também estudou os efeitos terapêuticos das substâncias psicadélicas e fez, sim, a sua viagem de busca existencial à Índia, que não durou apenas um mês e lhe deu ocasião de conhecer Neem Karoli Baba, que mudaria profundamente a sua vida e a orientação do seu trabalho.

 

Como contraponto aos exemplos clínicos apresentados por João Vedor no seu artigo, refiro o caso do escritor Paul Levy, internado pelos pais, diagnosticado como psicótico e acossado pelo sistema psiquiátrico, que reforçou o seu trauma de vida, revelando um lado sombrio da psiquiatria que merece toda a exposição que recebe nas suas obras – particularmente, em Dispelling Wetiko e Awakened by Darkness. Aí se lê que “(...) num verdadeiro despertar espiritual há frequentemente uma conjugação de fatores saudáveis e patológicos” que é preciso integrar: “A iluminação não é apenas ‘ver a luz’; ver a escuridão também é iluminação”.

A sua experiência com a psiquiatria é descrita como uma forma de abuso de poder e de violência disfarçada de amor, exercida por profissionais que desempenham o papel de sumo sacerdotes de uma religião científica moderna, o que a minha experiência confirma. “Na verdade, para a maioria dos psiquiatras, não existe sequer o conceito de um campo de consciência subjacente a tudo. A consciência é antes entendida como algo que surge da matéria e que, portanto, pode ser manipulada através de meios materiais (…)”. Noutro passo: “Enquanto estive no hospital, dei por mim numa situação absurda: estou no meio de um despertar espiritual que mudou a minha vida, enquanto os médicos me interrogam sobre a minha perceção da realidade para perceberem se estou louco. (…) Isto faz-me lembrar uma frase de um e-mail que recebi há alguns anos, em que a pessoa escrevia: ‘Quando disse à minha psiquiatra que achava que a minha missão neste mundo era espalhar a mensagem do amor, ela receitou-me um antipsicótico’”.

 

Para finalizar, apesar da maior apetência pela meditação “verdadeira”, tal como atrás descrita, que não tem um caráter utilitário nem é subserviente a um consenso social e pseudocientífico de realidade, em nada me incomoda quem a tenha como passatempo ou trivialize. É nos passatempos que se descobre paixões e por vezes se tropeça em vocações. Às vezes, há alguém que ganha ganas de chegar ao Outro Lado e, para pasmo de todos, chega mesmo.

Não há verdadeiras descobertas dentro dos limites do conhecido. A técnica não só não nos livra de perigos, como nos inibe, consolidando uma versão acanhada e contrabandeada do Real. Antes viver neste com um surto “psicótico” do que anestesiada no quintal da Carochinha.

 

Perceber tudo como um não é um estado alterado de consciência. É um estado inalterado de consciência; é o estado natural da consciência. Comparativamente, tudo o resto é um estado alterado.

Adyashanti

 

 

Fotografia: 2021 © Francisco Amaral – Todos os direitos reservados

 

26
Jun23

Inocência ou loucura?...

Sónia Quental

Captura de ecrã 2023-06-25 135333.png

 

I don’t have anything to lose. I can afford to be a fool. 

Byron Katie

 

 When I first realized there was only me, I began to laugh, and the laughter ran deep. I preferred reality to denial. And that was the end of sorrow.

Byron Katie

 

 

            

Percebi que um mestre espiritual só é levado a sério se usar tanga. Se tiver tido o azar de nascer no Ocidente e, pior ainda, se for americano, precisa de ter uma elaborada concetualização filosófica e ser pouco dado à ternura ou corre o risco de ser confundido com os desatinos New Age. Há uma certa distância que é preciso manter do comum dos mortais para se ocupar com dignidade o pedestal destinado aos gurus.

Cheguei a essa conclusão quando pensava em escolher um livro de Byron Katie* para oferecer, mas não sabia se seria indicado para a pessoa em causa e resolvi procurar avaliações de outros leitores e pesquisar críticas na internet para perceber como tinha sido recebido (sendo que eu própria já conhecia essa e outras obras da autora).

Apesar da morbidez que espiga nestes meios, os comentários sórdidos do Goodreads e de sites em que analisavam o seu trabalho recorrendo a conceitos psicológicos e filosóficos vazios deixaram-me atónita. Leitores que se socorriam do seu “pensamento crítico”, de uma bagagem intelectual e académica e da sua experiência horizontal de vida para proferir um veredicto de legitimidade sobre alguém que não se encontra no mesmo nível de consciência, chegando ao ponto de ridicularizar que o “despertar” de Katie tenha acontecido quando estava deitada no chão e se apercebeu de uma barata no pé – algo que estes críticos de algibeira não consideram provável. O caso é agravado por se tratar de uma mulher que pouco tempo antes fora alcoólatra, vivera deprimida e com pensamentos suicidas, o que os defensores da tolerância e do não julgamento acham mais uma vez difícil de conciliar com a sua moral vanguardista e a sua mente iluminada.

O que Byron Katie faz no seu “Trabalho” não é a desconstrução de crenças irracionais do cognitivismo. O seu questionamento não é uma técnica de psicoterapia, tendo, sim, como propósito último levar o sujeito que a ele responde para além da mente e do ego. Katie faz publicamente e sem aparato teórico o mesmo que outros professores têm maior relutância levar às últimas consequências: mais do que silenciar a mente por momentos, trata-se de questionar o vício de pensar e de acreditar nos próprios pensamentos, que tem a sua génese na perceção da dualidade. Embora se empenhe em desmistificar as narrativas que causam sofrimento, a sua abordagem faz derrocar a estrutura dos nossos processos mentais. Extrapola-se que não só o “Penso, logo existo” é uma crença equivocada, como o pensamento em si é um logro, sugestão que gera reações de incompreensão, confusão e recusa violenta ao invalidar o que o Homem moderno tem como núcleo da sua identidade.

Essas são secundadas pela incompreensão de alguns que parecem acompanhar o “Trabalho” e empenhar-se nele. Em todos os círculos de vocação espiritual há seguidores que tendem a levar uma prática ou ensinamento ao extremo, perdendo o equilíbrio, o discernimento e transformando-os numa caricatura da proposta original, porque não souberam captar a sua essência. Hoje em dia, com a influência sombria de certos escândalos mediáticos, é tentador colar o rótulo de “culto” em qualquer aglomerado de pessoas que se reúnam em torno de um líder espiritual, embora Byron Katie seja a antítese da soberba – talvez por isso seja tão tentador chamá-la louca. Cai-se na distorção de em tudo ver cultos, depravação ou tudo confundir com o New Age, descartando-se levianamente como fake o que não tenha filiação com uma escola religiosa ou espiritual consagrada.

O hábito e a necessidade de dar nomes desconcertam os devotos da tradição, que gostam de saber situar-se para proferir as suas sentenças. Em muitos dos comentários que encontrei no Goodreads, a opinião autorizada era: “não recomendo”. Se ainda não conhecesse os livros, seria motivo bastante para ir a correr comprar a obra completa.

            

My job is to delete myself. If there were a bumper sticker representing my life, it would say: CTRL-ALT-DELETE: WWW.THEWORK.COM.

Byron Katie

 

*Refiro-me concretamente ao título A Mind at Home with Itself, que prefiro ao Loving What Is. Este último, porém, foi traduzido e publicado em português há um ano pela Albatroz. Desconheço a qualidade do trabalho de edição, mas desconfio dela, por tratar o leitor por “tu” logo no título da obra (Ama a Vida como Ela É).

15
Jun23

A devoção não magoa

Sónia Quental

Série com o Véu - Madalena (03.12 (2).jpg

 

We are called by the divine like an eagle is called by the wind.

 Neil Kramer 

 

In the heroine’s journey we realise that the dragon lies not in a far-off land, but curled within.

 Lucy H. Pearce

 

 

           

Ao primeiro par de sapatos que me magoou, percebi que tinha sido feita para andar descalça. Como com quase todas as verdades que estorvam, fiz-me desentendida para passar vez. Levei os pés para longe da terra, protegidos por sola e desconforto, e continuei em busca de chão, ignorando os arrozeiros que me casavam ao piso.

Se me tivessem dito que a devoção não magoa, talvez tivesse sido mais pronta a largar parafernália, em vez de me sujeitar a apertos escusados, bolhas, joanetes, um sem-fim de mazelas por meter o pé onde não era chamado. Ter-me-ia ajoelhado mais cedo.

Não era dessas crianças com resposta pronta quando lhes perguntam o que querem ser quando forem grandes. A mim, já me chegava ser grande. Os adultos usavam sapatos e seguiam por caminhos batidos, por isso o que tinha era de ir atrás e transformar-me num cisne dócil. Seria inevitável se me esforçasse o bastante.

Mas o esforço nunca bastou enquanto tentava usar sapatos que não eram os meus, seguir por caminhos que eram de todos. O horizonte continuava à distância e as minhas costas, longe de produzirem penas, torciam-se em nós indecifráveis, porque o mundo era pesado e eu não merecia o céu.

Tentei usar calçadeira, ver se os sapatos alargavam com o uso, aplicar-lhes verniz, a eles e a mim, fazer arranques de voo. Acontece que todo o verniz estalava, o batom não pegava nem me assentavam os moldes.

Quando nos pés não havia mais lugar para marcas, o corpo começou a esfarelar-se em terra, dos nós na espinha rebentaram ramos que me embrulhavam os membros, desabrocharam flores nos poros desimpedidos, orbe espacial em convolução orgânica. A força da gravidade trouxe-me ao chão. Árvore alada, prostrada na terra, com pés que se afundam e raízes que sobem, não me doía a devoção.

 

Fátima - Francisco Amaral (1).jpg

 

Fotografias: © Francisco Amaral – Todos os direitos reservados

10
Jun23

Isso que existe

Sónia Quental

No labirinto.jpg

Assim como a subida da maré levanta todos os navios, o resplendor do amor incondicional num coração humano eleva toda a vida.

 Fran Grace

 

All the love and affection and kindness that came from Maharajji – you cannot get these from man.

 Ram Dass

 

 

O olhar de mais puro amor que alguma vez presenciei foi entre uma monja e uma criança. Parei a contemplar a cena com um pudor maldisfarçado, naquele princípio de noite em que as velas ainda não ardiam no Santuário de Fátima.

Ali estava, antes da procissão, como noutras ocasiões em que fui a Fátima, sem conseguir sentir qualquer beatitude ou atmosfera que sublimasse o lugar, além da miséria das pessoas em súplica ou do castigo de quem cumpre promessa. Chagava-me a exploração comercial dos peregrinos, sugados até ao tutano pela mais mísera refeição que tomassem, sem que a sua verdadeira fome fosse saciada. A missa a que numa dessas manhãs assisti pôs à prova o que me restava de candura: como é possível celebrar-se a fé com tamanho artificialismo e ostentação?...

A monja do olhar amoroso não era uma monja qualquer, mas essa é outra história. Naquele momento, trouxe-me à lembrança o documentário sobre Sri Prem Baba, Isso Existe, que traduz no título o arrebatamento de quando conheceu o seu mestre e sentiu o amor que dele irradiava. Outros, como Ram Dass, deram testemunhos semelhantes.

Naquela noite de maio, que à memória parece ter sido fresca, percebi que não era preciso viajar à Índia nem a lugares remotos para se achar raridades. Elas encontram-se no lusco-fusco do comum; dão-se a quem se dispõe a cruzar o umbral. Podíamos encontrá-las ao nosso lado, não nos achássemos pequenos em demasia.

Uns, ocupados com o corre-corre mundano, não aspiram a mais e, mesmo quando inclinados para a religiosidade, repetem litanias por tradição ou sentido de obrigação; os aflitos dividem-se entre as velhas e as novas igrejas, estas com rituais mais emancipados, mas continuando a falhar as promessas aos crentes. São poucos os que buscam – sabe-se que ainda menos os que encontram e realizam. Trancados na separação que trazemos no corpo, não queremos largar, embora, no fundo de nós, mesmo não lhe chamando Deus, algo se lembre e clame por aquele Amor que vi em Fátima, amor que salva e descansa.

É “isso” que procuramos sem saber, por vielas tortuosas e esconsas, crianças perdidas à espera que Ele nos reconheça e nos dê a graça do Seu olhar, contritas das nossas feições desfiguradas tanto tempo depois da Perfeição.

Fátima - Francisco Amaral (6).jpg

 

Fotografias: © Francisco Amaral – Todos os direitos reservados

 

29
Abr23

Luminárias

Sónia Quental

Escadaria do Mercado do Bolhão (4).jpg

It is so dificult to find a teacher these days. There are mostly preachers. A real teacher has no teaching.

H. W. L. Poonja

 

Most teachers are false teachers, and most seekers and false seekers.

H. W. L. Poonja

  

Percebo que Alexandre Mota quisesse perguntar a Jordan Peterson que compatibilidade haveria entre o Deus Cristão e aquele a que de modo incauto chama o “Deus Panteísta”, à guisa de matchmaker desavindo, em busca de uma luminária que lhe dê razão.

Andamos, muitos, em busca de luminárias, entre tantos falsos brilhos e a falta de referências que alumiem um ignoto deo. Percebo o que diz, apesar da falta de rigor, quando fala das “experiências esotéricas ao estilo panteísta” que vieram substituir o fascínio do existencialismo. Penso, sim, que é preferível “agir como se Ele existisse” do que sucumbir à convicção fácil do ateísmo (embora me pareça que a diferença não seja tanta assim).

Também a mim me indignam muitas das tendências que nomeia no seu artigo, que dão má fama ao que é da ordem do Invisível e a quem se empenha com seriedade em conhecê-lo. O sincretismo New Age é o red light district da Espiritualidade. Estou bem familiarizada com a confusão entre desenvolvimento pessoal e espiritual e com quem se considera espiritual porque queima incenso, faz visualizações criativas, aplica a lei da atração, lança o pêndulo e as cartas, comunica com os anjos e os mestres ascensos, pratica Reiki, Access Consciousness ou ThetaHealing, fala como entendido das crianças índigo e da era de Aquário, faz regressões a vidas passadas, leituras da aura, anda com cristais pendurados ao pescoço, recita afirmações positivas, participa em cerimónias ayahuasca e atira namastês à discrição. Enjoei das frases feitas de grupos que viram verdadeiras seitas, empenhados na eterna procura, mas não no Encontro. É disso que também se priva quem age “como se Ele existisse”: da oportunidade da descoberta.

É à boca cheia que se ouve falar de “luz”, “energia”, "cocriação" e do malfadado “ego”, nos locais mais desusados, por seres que trajam de branco, cobertos de medalhinhas de Nossa Senhora e de Cristo Jesus, que são “tu cá, tu lá” com o Arcanjo Miguel e têm contactos privilegiados na 9.ª dimensão. É o auge da pornografia. A espiritualidade tornou-se um acessório barato, que ora se põe ora se tira, consoante a ocasião e o dress code, deixando atrás de si um rasto carnavalesco de inquestionável mau gosto.

Por isso, caro Alexandre, entendo perfeitamente o que diz. No entanto, por muito respeito e admiração que sinta por Jordan Peterson, sei que não será ele a dar-lhe a resposta que procura – desde logo, porque ele próprio não a tem. Deus não se revela pela via do intelecto. Nas expressivas palavras de H. W. L. Poonja, “If you are looking for diamonds, do you go to a potato shop?”

Se quer começar por algum lado, sugiro-lhe, caro Alexandre, que comece por se livrar da suposição de que Ele existe, teve batismo cristão e é um “alvo exterior” (a abater ou não). Atreva-se a admitir que nada sabe e que só daí poderá partir: sem saber o que vai encontrar. Livre-se dos conceitos que formou antes de querer saber se o Deus cristão pode dar o nó com o “panteísta” e quem irá presidir ao casório. Remova os modificadores do nome. E, se quiser falar em esoterismo e budismo, estude-os primeiro. Não os confunda com as versões aciganadas que por aí circulam nem os irmane à erva daninha do relativismo. Desenvolva a faculdade da discriminação. Se precisar de ajuda, escolha luminárias que realmente saibam, não sem antes começar a acender a própria luz – porque só as luminárias se reconhecem entre si.

Fotografia: 2023 © Francisco Amaral – Todos os direitos reservados

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D

Na Pegada do Silêncio by Sónia Quental is licensed under CC BY-NC-ND 4.0