"Dolce far niente"
You have to learn to sit in the Silence (…).
Robert Adams
Instead of instant gratification, we seek cheap grace.
Peter Block
Certa vez, alguém me disse que estava com tanto trabalho que tinha o horário dividido em períodos de um quarto de hora. Acontece-me parecido, às vezes. Listas mentais de tarefas em reelaboração contínua, o tempo que parece impossível chegar, mas depois até cresce, e a ânsia de o aproveitar para adiantar mais trabalho, no espírito de não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje.
O mais difícil é travar a ebulição, pôr freio na gula da adrenalina e criar tempo para o nada. Parar corpo e mente. Temos a ideia de que o rendimento vem da ação – de que, quanto mais se faz, mais se produz e resolve. E temos esse vício de querer antecipar, viver um passo à frente do tempo.
Não fazer nada deixa-nos desamparados. Parece puro desperdício. A necessidade não é apenas de descanso ou lazer, como se vai sugerindo – nem de deixar a criatividade fermentar. É só que o regaço do Silêncio chama e é a sua vez de nos trabalhar por dentro, convidando-nos ao restauro do Mistério.
Mas a mente é tão ativa e ardilosa que até no silêncio quer saber como estar. O “Como?” é uma das perguntas em que mais insiste e por isso procura técnicas de meditação ou de mindfulness, que são apenas mais uma forma de continuar a fazer – fazer o silêncio, desta vez. Sente-se perdida sem estratégias e até do nada quer recompensas, saber que benefícios pode esperar.
Ouvi há dias, num podcast em que se falava do tempo que é necessário dedicar às grandes questões da vida (tempo que a maioria diz faltar-lhe), que uma das mais importantes qualidades espirituais a desenvolver era a disponibilidade. É esse o preço – ou um dos preços – a pagar. Mas, quando a necessidade se torna imperiosa, o tempo faz-se, inventam-se meios, tornamo-nos disponíveis. O que custa é quando chega a estação do silêncio. Quanto já se leu, estudou, praticou tudo e mais alguma coisa. Quando a busca não é movimento, mas estar quieto. Quando se quer avançar e o momento é de entrega. Quando não podemos conduzir o processo e sentimos que o tempo se escoa. Continuar disponível no Nada é a grande prova, sob a pressão do tempo, do impulso para a ação, da expetativa de lucro que acompanha à socapa um qualquer investimento.
Não obstante… É o Silêncio que nos encharca as mãos de beleza. Tudo o que se faz a seguir é gracioso e sem esforço. Deslizamos no tempo, esticamos o tempo, fazemos toda a índole de coisas inimagináveis e mágicas, incluindo escrever mais um texto, como se o tempo sobrasse para passatempos assim.
Therapist Pittman McGehee states that the opposite of love is not hate, but efficiency.
Peter Block
In Class of '09
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