Janela
As janelas não levavam à esperança: simplesmente não castigavam a solidão. Enquanto as orações da manhã e da noite, com récitas diferentes para o anjo de guarda, eram por obrigação, a janela era uma promessa que não me separava de mim. Levava para o infinito. Era onde o anjo da guarda se encostava quando queria saber dele e lhe pedia o serviço dos aflitos. Que as minhas aflições tendiam a ser muitas. Pedia-lhe paciência. Só o tinha a ele.
Anjo da guarda, minha companhia… Embora fosse muito de reclamar por aquilo a que não me pouparam, fui tendendo a preferir as companhias invisíveis: as que não se veem nem se ouvem nem se sentem e se duvida de que estejam lá. Até que o círculo foi ficando cada vez mais estreito e sobrei apenas eu, a querer desvanecer-me como os anjos, a ouvir as orações dos aflitos. Ainda a gostar do encosto à janela.