Ser ou não ser
O teste do desapego é quando se leva outra bordoada e o que nos vem à cabeça é este meme, que o sentido de humor saca automaticamente dos arquivos digitais, onde a memória temporária é ocupada por coisas mais permanentes do que deviam.
Disseram-me uma vez que eu era mais forte, que aguentava mais do que os outros. Era por isso que ficava com o meu fardo e o deles e que recebia mais pancada também: porque dava luta, morria, ressuscitava e passava de nível. Mas isso só dava gozo na Master System II, contra o meu irmão e o meu primo, quando eu era o Alex Kidd e aprendi a jogar o pedra, papel, tesoura. Na vida real, às vezes morro e nem sempre ressuscito, e ainda não encontrei ninguém com quem pudesse jogar o pedra, papel, tesoura e ser recompensada por isso. É cansativo recomeçar os mesmos níveis, mesmo quando sei fazê-los mais rápido e acabo com os adversários ao primeiro golpe, só para chegar um pouco mais longe antes de perder a próxima vida.
Deve ser castigo por ter levado o Boss AC para a sala de formação, quando tentava dar lições de moral pedantes às crianças. É com ironia mordaz que o mesmo sentido de humor que me fulminou com o meme canta agora sem afinação: “És forte, abanas mais não cais” ou “O que não mata engorda”. Não sei se o preço da fortaleza compensa nem se o presente estado de impassibilidade e desapego é uma conquista ou se é só perda da capacidade de reação. Tenho a impressão de que agora morro na mesma, mas morro feliz. Se é isso que é ser forte, se calhar passei de nível e não sei.