Queda livre
Era demasiado o esforço para não cair. Não fazia mais do que segurar-me de pé, tentar não cair outra vez de bicicleta, não tropeçar nos próprios pés, não esfolar os joelhos, não andar toda pisada. Escolher sapatos que não magoassem e me deixassem andar sem bolhas nos pés.
Gostava de caminhar, mas não de cair. Gostava de caminhar para sempre, sem chegar a lugar algum, embora achasse que queria. Transpirava debaixo do sol imaginando procurar alguma coisa séria, mas o que gostava era só de andar. Mas não de cair.
Se me desmoronasse por acidente, em que bocado estaria eu? Seria a soma das partes ou estaria engastada nalguma? Continuaria a ser a mesma se perdesse alguma delas?
O esforço de evitar as quedas antes as trouxe dobradas. Continuava a mesma criança de joelhos esfolados e algodão com água oxigenada, a limpar as feridas teimosas, sempre triste, sempre zangada. Tentaram empurrar-me para a felicidade de fazer de conta que todos traziam vestida, sem conseguir.
O que aconteceu foi que deixei de me importar com as quedas. Passei a cair com mais graça, com mais intenção – às vezes ainda triste, às vezes zangada ou as duas coisas ao mesmo. Descobri que estou em todas as partes e em nenhuma. E quando a felicidade vem tratamo-nos por 'tu'.
Once the tempest has moved through you, you are left clean and naked, stripped of the burden of pretending to be who you are not. And in this naked awareness, you see that you’re not really falling apart – you are falling open.
Amoda Maa, in Falling Open in a World Falling Apart