Um minuto de silêncio
Pedem-me um minuto de silêncio por uma qualquer causa nobre que desconheço e nada me diz. Se fizéssemos um minuto de silêncio, silêncio só pelo silêncio, sem motivos ulteriores e em homenagem a coisa nenhuma que não o próprio silêncio, saberíamos que ele não é luto nem lamentação, e que o silêncio nunca vem só.
Solto o pensamento e deixo-o comprazer-se nesse minuto cheio de nobreza que se faz tão longo para mim, para quem a vida é silêncio. Silêncio forçado, num parêntese que fecha o mistério e reduz à modéstia o infinito.
Este é outro recorte de poema que copiei à socapa de um livro de João Habitualmente, que sabe o que é o silêncio, o que é a beleza e o que é a mulher:
E é verdade que beleza é fundamental.
Mas não essa beleza beleza
essa que se esgota na beleza
e quer que para fora dela
Nada exista
e não exista nada.
Porque o grande mistério é o silêncio
E o grande mistério é a mulher
quando nos olha em silêncio
as beldades que me perdoem
mas silêncio é fundamental