Sem título
Form changes. Wholeness remains in every crumb.
Georgi Y. Johnson
É nos momentos em que a nossa humanidade animal fica exposta que percebemos o quanto tentamos controlar o movimento da vida, o quanto vivemos para nos proteger das catástrofes, segurando a mão que nos resolve o destino.
Há coisas escondidas que emergem quando ganhamos a consciência de que não temos o controlo. A resistência não quer abandonar a fachada de racionalidade, entregar-se a essa matéria visceral, indigna da sua imagem de roupa vestida. As emoções revelam-se em bolsas e espasmos, o “eu” afunda, perde a definição, os limites que o separam do movimento mais vasto que o atravessa. Esperneia, com medo de perder a forma e deixar de ser coisa. Quer manter as comportas fechadas, morar no estado de contração contra o fluxo imprevisível da noite – como se fora mais do que um caroço escuro, um ponto minúsculo de contraste contra a imensa luz.
Fotografia: 2019 © Francisco Amaral – Todos os direitos reservados